Olhos

Olhos
Olhos expressivos de quem já viveu / Histórias, memórias, lembranças de paralelepípedo, / De ruas, calçadas, nomes, pessoas, gestos, vozes, choros, berros / De alguém ou meus. / / O olhar dessa cidade / Sabe dos números de ruas / Que os teus pés já pisaram / Não fale das coisas pequenas que escorrem pros lados. / / E lembre-se sempre do que você diz a si / A verdade é a coisa mais pura pra se ter e sentir, / / Menina, os teus olhos, me lembram / Um bocado de dengo / E a arte de arder em meu peito ainda aquela vontade, / Retruca, por que ter guardado o momento / Dentro dos meus pensamentos em um bau zincado?

Nota de falecimento

Nota de falecimento
Maria Tereza

Aviso aos familiares e amigos
O falecimento do senhor Claudio
Ele era pacato
Andava todo engomado
Você já deve ter visto

Não cumprimentava ninguém
Nem gostava de música
Tinha quem beijar mas nunca olhou pro lado.

Caminhava pela rua sempre apressado
Via cada animal como mais um animal
Se via como animal lutando pela seleção natural

A morte veio simplesmente
Atacou todos os órgãos
Nem um pôde escapar
É assim que a vida é
Trabalhar não é atirar na cabeça de ninguém
Pra matar.

Ele não saia de casa para ir ao bosque
Via seus filhos como filhos de ninguém
Era só dor e sofrimento para todos
Pois a sua solidão é a prova que tem
De que a vida é só dureza
Beleza é pros fracos que não tem trabalho
Não tem seu carro de reputação.

Aviso aos familiares desse individuo
Aviso ao filho, aviso a neta
À ex mulher e à loja vizinha
Aos amigos que queiram lembrar
Do falecido senhor Claudio.

Ô Claudio
Espero que esteja no céu!
Ô Claudio
Seu fígado não pode virar pastel!
Ô Claudio / Claudio / Claudio
Agora você não existe pro mundo que quis olhar!
Dinheiro / Ganância / Fome
De tudo ostentar.
Ô Claudio
Precisa ser enterrado!
Precisa ser enterrado!